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sexta-feira, abril 21, 2006 

A língua girava no céu da boca




A língua girava no céu da boca. Girava!
Eram duas bocas, no céu único.

O sexo desprendera-se de sua fundação,
errante imprimia-nos seus traços de cobre.

Eu, ela, ela eu.
Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, e leu.
A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.

Consumia-nos em piscina de aniquilamento.
Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo,
em núpcia, emancipados de nós.

A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo,
se restituíram à consciência.

O sexo reintegrou-se.
A vida repontou: a vida menor.


Carlos Drummond de Andrade
Extraído do livro "O amor natural",

Editora Record – RJ, 1992, pág. 29.

arion: Golfinho tão lindo que me apresentas hoje. Desse peixe línguado eu gosto muito com molho á minha maneira...

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